NÃO É SÓ O PREÇO DA ESCOLA QUE IMPORTA
Quando se fala de reajuste de mensalidade escolar
está-se tratando de aumento da receita da escola. A
receita de uma empresa é a contrapartida da despesa e é
o que baliza o lucro do empreendimento.
E ninguém entra racionalmente num negócio para perder
dinheiro, daí toda a briga pelo valor dessa receita.
Quando se tem um sistema educacional cuja a qualidade
está assentada no fornecimento de um serviço gerador de
receita para uma empresa, não é lícito exigir que
prejuízos sejam absorvidos por esse empreendedor. Por
pagar mal aos professores e ter instalações deficientes,
o ensino público deixa a desejar e é rejeitado por quem
pode pagar.
Passa por aí a análise da solução. Numa economia
capitalista e liberal cabe à concorrência equilibrar os
preços entre os participantes. E quem seleciona a
concorrência é o consumidor, no caso, os alunos, ou
melhor, os pagantes, que são os pais dos alunos.
E havemos de convir que uma escola sem alunos dará
prejuízos, daí o interesse que essa escola terá em
cativar seus fregueses oferecendo bom ensino, boa
localização, adequadas instalações, preços compatíveis e
até descontos para bons alunos e irmãos.
Se, porém, os pais teimarem em querer ‘’aquela’’ escola
para o filho, a tradução será
"quero aquela a qualquer preço’’ e terão que se sujeitar
às leis de procura e oferta do mercado, embora exista
outra na próxima esquina com idênticas condições
globais, com preços mais convenientes, porque estará
interessada em arranjar alunos. Mas, se os pais gostarem
de acordar `as 5 da manhã (de horário de verão) no
Recreio dos Bandeirantes para pegar engarrafamentos no
Leblon, Humaitá ou na São Clemente às 7 da manhã e ainda
voltar em pista única, aí só uma terapia familiar poderá
explicar o masoquismo ou a culpa envolvidos... Esse
trajeto é carioca, mas, com certeza isso acontece por
esse Brasil afora...
Se eu fosse mandatário da cidade, seria proibido a
alunos estudar em colégios fora de seu bairro ou
localizados a distancias que não pudessem ser atingidas
a pé. Nos EUA todo mundo estuda ao lado de sua casa ou
pega aquele ônibus amarelo tradicional --artista de
vários filmes -- que pertence à escola do bairro. Nada
de mães, disfarçando ocupação doméstica, engarrafando o
trânsito de manhã e de tarde, falando ao celular, junto
com motoristas de bacana. E se, pelo menos, houvesse
algum esforço para transformar esse caos em transporte
solidário seria mas racional.
A alegação para continuidade desse processo que alimenta
essa demanda costuma ser parecida com aquela usada para
médicos e dentistas: tem que ser de confiança! Como se,
naquele caso, não houvesse milhares de outros tão
competentes quanto, e com preços mais compatíveis com
nossa condição socio-econômica.
Os alunos não casam com suas escolas. Assim sendo, saber
negociar com as escolas abrange avaliar o retorno do
investimento, a relação custos versus benefício e o
orçamento familiar. E se esses fatores não forem
interessantes, tem-se que mudar de escola. E o mundo não
vem abaixo por causa disso: quando o filho derrapa no
aproveitamento e repete o ano, os pais não hesitam em
mudar de colégio para tentar salvar o ano perdido...
Por outro lado, se o governo fizesse a sua parte (quando
será?) e oferecesse ensino gratuito com a necessária e
suficiente qualidade, teríamos escolha. Se todas as
escolas públicas fossem do padrão do tradicional Pedro
II, do Colégio de Aplicação, do Colégio Militar e outras
honrosas exceções cariocas, a população poderia optar em
não cair nas mãos de empresários que só visam o lucro
imediato com retorno duvidoso para o cliente-estudante.
A mesma situação também acontece por esse Brasil afora,
mas tem que se correr atrás, para chegar na frente!
Atualizado
a partir de artigo publicado no Jornal do Brasil -RJ |